terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Wording na Babilónia

No edifício das Nações Unidas, as delegações mastigavam mais uma resolução, tropeçando em cada palavra.
Enquanto Cuba e os Estados Unidos lutavam por uma vírgula, a micose que o obscuro delegado trouxera de casa lutava por uma virilha.
Levantou-se para ir à casa de banho. No urinol verteu águas, em uníssono, com um togolês, um sueco e um panamiano.
Ao voltar para o lugar, reparou na impassibilidade do sihk que guardava a entrada da sala do plenário, em claro contraste com o frenesim dos corredores.
Durante a longa declaração de princípios do delegado egípcio, fechou os olhos e voltou por momentos à infância.
Quando o delegado da Austrália iniciou a sua intervenção com um “Thank you, mister Chairman”, levantou-se de um salto e começou a soprar línguas de sogra e a lançar serpentinas para os delegados vizinhos.
Estava num circo e não há melhor lugar do que um circo para serpentinas e línguas de sogra.
Quando a folia descontrolada começou a tomar conta do plenário, retirou-se discretamente para ir tomar um café em sossego.
À porta da sala, o sihk continuava tão imperturbável como sempre.

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