sexta-feira, 7 de maio de 2010

Sem papéis

Mingo não tem papéis. É um simples número que sua. Trabalho infantil de adulto. Negritude guineense caiada por pós e tintas. Castelo firme de braços doloridos.
Gostava de ver na TV o Jerry a vencer o Tom. Mas no trabalho era ao contrário: desenhos desanimados de ratos mortiços dominados por gato omnipotente e gozão.
Quando Mingo caiu do andaime, quem viu fingiu que não viu. O seu corpo-contentor tombou à margem. Vento cortado na visão periférica do capataz, mercador da dor de homens numerados.
Taparam com cimento o buraco com recheio de homem.
No dia seguinte, no exacto local do acidente, brotou do cimento uma pequeníssima flor amarela, prontamente pisada pelas botas rochosas do capataz.

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