segunda-feira, 3 de maio de 2010

Fronteira de mundos

Na comunidade aborígene, até os cães arrastam diabetes. As doenças como convidados de honra daquele centro de tristeza subsidiada.
Os aborígenes ali estão, à mercê das tempestades de areia que lhes tapam o futuro, lançando-lhes grãos de solo colonizado para os dentes.
À entrada da gruta-matriz por onde os confins do tempo um dia se internaram, Vern Nariva toca didgeridoo, a hélice profunda que eleva o espírito dos aborígenes.
Jimmy, o filho mais novo, sente a pedrada dos fumos. Corpo descerebrado movido a gasolina com chumbo. Mais que maluco, mal louco. Ele e os outros, maçãs com remédio em cela desmemoriada reservada aos viciados em gasolina. Formigas sugadas por urso-formigueiro do seu mundo morno e sábio.
Na fronteira desse mundo com o mundo onde compra a aguardente, Vern Nariva, corpo pintado contra as estatísticas de doença e morte, aponta para o horizonte ébrio do deserto: - Aquele é o meu país.

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