segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Argélida

Indiferente ao perigo, o pequeno Ahmed dá de comer às cabras. Com ele moram a avó, os pais, os quatro irmãos e o medo, anichado ao canto da sala, contra o calor da caldeira. Naquela terra de montes magros vivem poucas famílias. Ignoradas de todos, sem telefone para telefonarem a própria morte.
Na cidade grande, o primo de Ahmed vive há semanas fechado num pequeno apartamento, tentando cheirar os sons da Primavera que desponta lá fora.
Na noite em que os fiéis com punhais vêm limpar os pés à sua porta, as gentes do lugar de Ahmed passam, em golpes de silêncio, de adormecidos a adormatados.
O pequeno Ahmed foi degolado como um frango de aviário.
Na cidade grande, o primo tenta cheirar os sons da Primavera que desponta lá fora.

Sem comentários: