segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O fungo

Quis o destino que tivesse de permanecer mais três dias na pequena ilha das Caraíbas onde se deslocara para uma reunião de negócios.
A decadência do hotel saltava à vista debaixo da tinta apressada, como marreca de velha senhora sob estola com cheiro a armário. Era um hotel como todos os outros, mas com duas particularidades: tinha obras nos corredores e um fungo nas paredes, um musgo acastanhado que libertava um líquido amarelo.
Passou dois dias a aborrecer-se, a ler policiais e a confirmar as conclusões que a sua larga experiência de hotéis há muito lhe permitira tirar: que 90% dos hóspedes nadam devagarinho e jogam mal ténis e que o bar da piscina nunca tem barman.
Ao fim do segundo dia, tomado por uma modorra tão pardacenta como o musgo da parede, deitou-se vestido e adormeceu com o Have a nice day, sir! a martelar-lhe a cabeça.
Horas depois, o fungo insidioso, que já ocupara as pernas da cama, começou a cobrir-lhe o pé direito, trepou pelo tornozelo e continuou a subir.
Antes de lhe entrar pelos ouvidos, ainda ouviu uma voz dizer, do lado de lá da porta: Have a quiet evening, sir!

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