Acordou com uma luva preta na mão direita. Mesmo sem saber como lhe viera parar à mão, achou-a menos estranha do que estranhamente familiar. Era uma luva confortável, feita à sua medida. Uma luva que lhe assentava como uma luva.
Tinha a impressão de já ter visto aquela luva nalgum lado, mas não sabia dizer onde. Até que um dia, de repente, se lembrou: aquela era a luva do Artur Semedo.
Habituou-se de tal modo à luva que nunca a tentou tirar.
Sentia alguma coisa debaixo da luva, dois pequenos corpos esféricos. Mas, temendo a revelação, não quis ver o que era. Preferia que o mistério crescesse e se adensasse.
Quando finalmente ganhou coragem e descalçou a luva, deparou-se com um par de olhos. Só que não era um par de olhos qualquer. O que durante semanas guardara na luva do Artur Semedo era o par de olhos do Abrunhosa.
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