Tinha na mão um saco de plástico que lhe fora útil, mas de que já não necessitava.
Olhou para aquele espaço soprado onde cabem todos os objectos e a conveniência do homem e percebeu que o saco de plástico é um objecto omnipresente. Que atrás de cada saco de plástico há uma extensa fila de sacos de plástico à espera de vez. Que até no paraíso mais intocado rola um saco de plástico, despreocupado, como se não fosse nada com ele. Que milhares de pedaços de saco de plástico gravitam à volta da terra, enrodilhando-se nas lentes ópticas dos satélites. Que no dia em que todos os habitantes da terra se passearem com um saco de plástico na mão se terá atingido a democracia total.
Tinha tratado bem aquele saco de plástico. Chegara mesmo a levá-lo a um piquenique, que é onde os sacos de plástico se sentem mais felizes, perante a perspectiva de saírem a esvoaçar, livres e loucos, por entre pinheiros e eucaliptos.
Mas agora queria ver-se livre dele.
Só que cedo percebeu que seria difícil - se não mesmo impossível - fazê-lo desaparecer, pois um saco de plástico, ainda que não o mereça, dura mais do que a vida. Não se gasta, amarrota-se. Não se acaba, delonga-se: incorruptível, indestrutível, mais perene do que o tempo.
Se o levasse com ele para um maciço da Antártida, com ele haveria de voltar. Se o enterrasse, logo uma das alças afloraria à superfície. Se o deixasse a arder, iria retorcer-se de raiva e lançar-lhe um ominoso fumo negro que lhe intoxicaria a alma.
Só teve uma saída: foi pô-lo a dançar ao vento.
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