quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Rejuvenescimento

Naquela tarde tropical, só um casal se passeia pelas ruas. No banco da praça central, um velho permanece. Sombra chinesa de ossos com cajado. Corpo espondilósico que vai sorvendo o vagar da tarde.
De repente, o velho ergue-se com um poderoso golpe das costas doentes. Começa a balançar-se e a agitar os braços. Rejuvenescido, lança-se então numa dança enérgica, compulsiva. É dançarino de salsa em palco de festa, neo-adolescente com a endemoninhada anca de Elvis.
Até que tomba bruscamente sem vida, como árvore centenária abatida por um raio.
É apenas um segundo depois que o escorpião se escapa pela perna das calças rafadas, afastando-se do corpo imóvel com eficácia.

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